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Cultura Jovem paulistana

Jovem paulistana de 27 anos pretende se tornar primeira mulher negra brasileira a conhecer todos os países do mundo

Uma jovem de 27 anos de São Paulo decidiu se tornar a primeira mulher negra brasileira a conhecer todos os países do mundo. Ela já passou por mais de trinta países e nessa semana esteve no Afeganistão.

02/07/2022 19h52 Atualizada há 2 anos
Por: Redação Fonte: G1
Nataly Castro em Israel: ela pretende passar por 200 países — Foto: Reprodução/Instagram
Nataly Castro em Israel: ela pretende passar por 200 países — Foto: Reprodução/Instagram

Nataly Castro nasceu no bairro Carrão, na Zona Leste de São Paulo. Ela estudou em escola pública quase a vida toda. Na faculdade, conseguiu uma bolsa para o curso de jornalismo, um dos seus sonhos.

Agora ela foi atrás de outro sonho: há 4 meses que Nataly, deixou o Brasil com o desafio de se tornar a primeira mulher negra brasileira a visitar todos os países reconhecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU). Desde que saiu do Brasil, já foram 32 países. São 200 países no roteiro. Ela já passou pelo Paquistão, Grécia, Itália e Israel, entre outros.

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Esta semana, no Dia Nacional de Combate à Discriminação Racial, Nataly contou como está superando o racismo para realizar um sonho. No Afeganistão, ela foi parada pelo Talibã, o grupo extremista islâmico que retomou o poder no ano passado no país.

“O Tali me parou agora pedindo o meu passaporte no meio da avenida, vinte homens me cercaram e ficaram olhando sabe?”, conta ela.

Pelas ruas da capital, Cabul, e até dentro da casa onde está hospedada, Nataly tem que usar o véu para cobrir a cabeça, uma das mais básicas de uma longa lista de cuidados que ela tem que ter para não desrespeitar a Sharia – a lei islâmica. Por onde passa, ela atrai os olhares por ser estrangeira, por ser mulher e por ser negra.

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“Eu estou meio assim, apreensiva, nervosa, porque quando eu estou gravando vídeo, vocês estão percebendo que tem várias pessoas olhando. Então eu fico desconfortável.”

 

Nataly Castro teve de usar véu em países muçulmanos — Foto: Reprodução/Instagram
Nataly Castro teve de usar véu em países muçulmanos — Foto: Reprodução/Instagram

Na Geórgia - uma ex-república soviética - quando contou que era brasileira, um senhor tirou da pasta uma folha impressa em preto e branco para mostrar um ídolo no começo da carreira: Edson Arantes do Nascimento, o Pelé.

Na Jordânia, ela foi recebida com celebração pelas mulheres muçulmanas, que queriam até arrumar casamento para ela.

O que motivou Nataly a sair do Brasil foi uma adolescência marcada pelo racismo.

“O que me motivou a buscar novas oportunidades e me jogar no mundo foram episódios de bullying, algumas situações que eu sofri na escola em que eu estudava, como chacotas, pessoas me ameaçavam de pegar na saída, pessoas me empurravam, cuspiam em mim, tentavam me empurrar da escada, entre outras situações bem difíceis, como apelidos, piadas. As pessoas não aceitavam eu ser uma aluna negra, fazendo a diferença na escola e sendo contada pelas professoras e diretores.”

 
Nataly Castro na Grécia — Foto: Reprodução/Instagram
Nataly Castro na Grécia — Foto: Reprodução/Instagram
 

 

 

 

Por causa dessas agressões, Nataly enfrentou problemas psicológicos, até que um dia encontrou um propósito.

“Uma das noites eu estava na casa da minha avó, e eu estava bem cabisbaixa, até que eu decidi ir na sacada e olhei para o céu e vi um avião. Nesse exato momento eu imaginei para onde aquele avião estaria indo? Para onde essas pessoas estão indo, como será que é lá em cima? Imagina só eu entrar em um avião desse e me jogar no mundo?”

Viajando pelo mundo, Nataly descobriu que o racismo não é sobre lugares, mas sobre pessoas. Na Polônia, ela sofreu agressões no meio da rua.

“Eu fui andando e percebi que as pessoas atravessavam a rua para não ficar na mesma calçada que eu. As pessoas apontavam, me chamavam de black me chamavam de monkey, que é macaco, eu fui me sentindo muito desconfortável ao ponto de chorar, começar a chorar no meio da rua porque eu não estava acreditando naquela situação que eu estava vivendo”, relembra.

“Ser mulher viajante solo já é um desafio, porque a gente vai para lugares onde é a questão de segurança, assédio... E ser mulher viajante negra é um outro desafio também porque em muitos lugares as pessoas não estão acostumadas a ver uma pessoa negra frequentando um aeroporto, uma sala vip, restaurante ou ficando hospedada em um resort no hotel. O que acontece é que muito dos lugares que eu frequento eu vejo alguns olhares de curiosidade e outros olhares de racismo.”

Mas Nataly encara tudo isso como uma missão. Ela faz questão de documentar cada experiência para inspirar as gerações que vierem depois dela.

“A viagem é muito mais do que o turismo, do que fotos bonitas, mas é a resiliência, experiência e autoconfiança. A gente vê que existem situações e pessoas passando por alguns problemas às vezes até maiores que os nossos e a gente aprende muito com a estrada, que a gente não precisa se curvar diante das imposições da sociedade, que a gente é forte e a gente pode sim conquistar o mundo.”

Nataly saiu do Afeganistão na sexta-feira (1) e já está em Dubai. A viagem é patrocinada por doações de pessoas que acompanham o trabalho dela nas redes sociais.

 

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