A má saúde bucal, especialmente a saúde periodontal ruim, pode estar associada ao declínio cognitivo e demência. Essa foi a conclusão de um estudo publicado pelo Jornal da Sociedade Americana de Geriatria no início de setembro. Por meio de análises de bancos de dados eletrônicos para estudos na área publicados até abril de 2022, os pesquisadores separaram 47 estudos mais relevantes sobre o tema.
Eles indicaram como saúde periodontal ruim aquela refletida pela presença de periodontite, perdas dentárias, bolsas periodontais profundas ou perda óssea alveolar. Esses sintomas podem ter relação com o declínio cognitivo e demência. Em análise adicional, os pesquisadores encontraram associações indicando que a perda de dentes aumenta o risco de aparecimento das duas patologias.
Como recomendações clínicas para lidar com as duas doenças, os pesquisadores indicaram o monitoramento e gestão da saúde periodontal como ações importantes para a prevenção da demência. Também recomendam atenção especial a exames bucais em idosos que apresentam risco aumentado de demência, seja com base no risco periodontal ou outros fatores.
O cirurgião dentista Thiago Cesar Ramalho Pereira comenta que, além de declínio cognitivo e demência, há estudos que associam a presença de bactérias encontradas em doenças periodontais ao Alzheimer. “Ainda não se sabe a relação de causa, porém acredita-se que a doença periodontal agrava ou até pode ser causadora de Alzheimer. Por isso é tão importante o acompanhamento constante do cirurgião-dentista, para prevenir e diagnosticar precocemente doenças infecciosas bucais, a fim de evitar a propagação de bactérias para outros lugares do corpo”, ressalta.
Ele explica que o Brasil ainda peca em tratamentos preventivos, que são importantes pois doenças bucais são quase em sua totalidade associadas a bactérias e essas infecções primárias podem acarretar o agravamento ou mesmo o surgimento de doenças sistêmicas. Segundo Pereira, a literatura também já associa doenças crônicas da gengiva ao aumento de risco à doença cardíaca e diabetes.
“Todos deveríamos ir ao dentista fazer uma raspagem supra gengival e polimento dos dentes, associado a um exame clínico e exame das gengivas, pelo menos a cada seis meses”, diz, acrescentando que esse protocolo é recomendado pela Associação Americana de Odontologia e aplicado em quase todos os países do mundo.
O cirurgião dentista comenta ainda que exames associados à raspagem supragengival e polimento coronário a cada seis meses, além de exames de gengivas completo uma vez ao ano, juntos a boa escovação, são as algumas das medidas que podem prevenir o aparecimento de doenças periodontais. “Eu prescrevo a meus pacientes as recomendações de higiene bucal preconizadas pelas grandes associações de odontologia mundiais, baseada em evidências científicas e clínicas. Porém encontro dificuldades em fazê-los entender e seguir um protocolo tão abrangente”, relata ele, que tem 10 anos de experiência na área odontológica.
Prevenir é melhor que remediar
Segundo o que foi apontado pelos pesquisadores no estudo publicado pela Sociedade Americana de Geriatria, as evidências disponíveis atualmente sobre a associação de saúde periodontal com declínio cognitivo ainda não são suficientes para identificar o problema precocemente em indivíduos de risco. Por isso, é importante atentar para medidas de prevenção, especialmente em indivíduos que já possuem algum comprometimento cognitivo ou apresentam sinais de aparecimento de demência.
Nas conclusões do estudo, os pesquisadores recomendam o acompanhamento e suporte adequado em saúde bucal e atendimento periodontal, inclusive oferecendo os serviços diretamente em domicílios quando se observar que não os pacientes não têm condições de manter o autocuidado sozinhos.
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